Armas Químicas


O que são armas químicas? Sete pontos para entender esta ameaça


O uso de armas químicas está no centro de grandes polêmicas e disputas internacionais. O ataque contra o ex-agente russo Sergei Skripal no Reino Unido, no início de março, é um exemplo.
No ataque, foi usada a neurotoxina Novichok, na ação que foi considerada a primeira utilização de armas químicas em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
A retaliação da primeira-ministra britânica Theresa May, ao expulsar 23 diplomatas russos do Reino Unido, dá uma dimensão da gravidade desse atentado.
No Oriente Médio, a Guerra da Síria, que já dura mais de sete anos, ganhou um novo episódio no último dia 7 de abril, quando um suposto ataque com armas químicas teria acontecido na região de Douma, o último bastião dos rebeldes que que lutam contra o presidente Bashar Al-Assad. 
Estados Unidos, França e Reino Unido acusaram o governo sírio de ter sido o mandante do ataque contra sua própria população. A ONU atribui pelo menos 35 usos de arma química por forças sírias durante o confronto desde 2013, quando Assad assinou a convenção internacional que impede o uso desse tipo de sustância.
A Síria negou que o ataque tivesse existido. A Rússia, que apoia o governo Assad na guerra, afirmou que o ataque foi “encenado” pelo Reino Unido para justificar uma possível retaliação.
Os líderes dos três países do Ocidente, Donald Trump, Theresa May e Emmanuel Macron se juntaram e organizaram um ataque contra a Síria que aconteceu na última sexta-feira (13). Segundo eles, o ataque visava justamente destruir esses depósitos de armas químicas.
Mas por que as armas químicas geram tanta comoção na Comunidade Internacional? A toxicologista e especialista em armas químicas Camilla Colasso, que respondeu sete perguntas-chave sobre o tema.

O que são armas químicas?
As armas químicas são substâncias químicas que já existem e são empregadas no uso industrial. A diferença é que uma arma química é utilizada para atacar e fazer sofrer uma população civil ou um inimigo externo.
“Esse tipo de arma é um produto químico que causa morte ou que é, no mínimo, tóxico”, explica Colasso. 
Para fazer uma diferenciação mais precisa entre as substâncias químicas usadas para ferir a população das mesmas substâncias que são usadas na indústria, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) afirma que uma arma química pode ser definida como a junção do dispositivo utilizado para dispersar com o produto químico tóxico.
"pensando em ataques contra civis, essas armas causam dor, injúria, provoca um choque muito grande para quem é vítima e para a sociedade como um todo", esclarece.

Quais são os tipos de armas químicas?
As armas químicas são divididas em cinco grandes classes:

*Neurotóxicos: São substâncias artificiais criadas especialmente para agir no sistema nervoso central da vítima. Essa é a classe mais letal de armas químicas, segundo Colasso. O Novichok utilizado para envenenar o ex-agente russo Sergei Skripal e sua filha Yulia é um exemplo de arma química neurotóxica. O gás sarin — que na verdade é um vapor — foi utilizado contra a população da Síria, conforme informações de organizações de direitos humanos. "Esses são os mais letais", completa Colasso.

*Sufocantes: Esses produtos agem causando o sufocamento no organismo afetado. Gás cloro e fosgênio são dois exemplos de armas químicas dessa categoria. Segundo as organizações internacionais, o gás cloro tem sido altamente utilizado na Guerra da Síria.

*Vesicantes (ou bolhosos): Essas substâncias específicas agem principalmente nos olhos e na pele da vítima. Eles causam bolhas características que doem muito e podem incapacitar a ação de um inimigo, no caso de um confronto. "As bolhas provocadas são muito difíceis de serem tratadas quando estouram e doem demais. Essas armas não matam, mas deixam as pessoas completamente debilitadas", garante Colasso. Essas armas também podem provocar cegueira. O gás mostarda é um exemplo de arma química vesicante.

Atentado químico no Japão deixou 12 mortos

Atentado químico no Japão deixou 12 mortos

Agência Japonesa de Defesa/Getty Images
*Agentes sanguíneos: Esses produtos são todos à base de cianeto e foram os agentes tóxicos utilizadas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Colasso explica que essas substâncias causam falta de oxigenação nas células e assim o corpo entra em pane. Dependendo da quantidade de gás, a vítima morre em poucos minutos.

*Toxinas: Essas substâncias são características por serem extraídas de microorganismos. Existem dois tipos de toxinas usadas como armas químicas. As primeiras são as saxitoxinas extraídas de cianobactérias e algas marinhas e as segundas são as ricinas, extraídas de semente de mamona.

Desde quando as armas químicas são usadas em conflitos?
O primeiro uso militar de armas químicas em grande escala que se tem notícia foi na Primeira Guerra Mundial. A Alemanha utilizou cilindros de gás cloro para evitar o avanço das tropas francesas.
Posteriormente, os aliados também passaram usar esse tipo de armamento. Naquele período, a principal substância utilizada foi o gás mostarda.
Depois disso foi criado o Protocolo de Genebra, em 1925, que impedia o uso de armas químicas em batalha.
Isso não foi o bastante, tanto que durante a Segunda Guerra Mundial o cianeto foi utilizado pelos nazistas e os japoneses também fizeram experiências químicas e biológicas contra soldados australianos.
Na Guerra do Vietnã, os Estados Unidos empregaram o desfolhante conhecido como agente laranja contra a população Vietnamita.
Na década de 1990, a Guerra Irã-Iraque também teve o emprego desse tipo de armas. Um atentando utilizando gás sarin deixou 12 mortos e atingiu pelo menos 6 mil pessoas no metrô de Tóquio em 1995. 
A Opaq surgiu em 1997 com a proposta de destruir as armas químicas que restaram desses conflitos.

Quantas armas químicas existem no mundo?
De acordo com a especialista é impossível ter certeza de quantas armas químicas existem no mundo.
A situação é ainda mais complicada porque muitas dessas substâncias podem ser facilmente criadas, como é o caso do sarin. Esse gás venenoso não é comercializado, mas com a matéria-prima adequada, é possível produzi-lo em um quintal.

Quais sintomas?
Cada classe de arma química produz uma reação específica no corpo humano. Colasso esclareceu os principais sintomas dos dois principais armamentos que teriam sido usados na Síria nos últimos sete anos: o gás cloro e o sarin.
“O cloro provoca a sensação de que tem alguém pisando no seu peito”, relata. É um aperto muito forte no peito e caso a pessoa não seja tratada imediatamente, morrerá em pouco tempo.
O sarin, por sua vez, provoca muito suor e salivação na vítima. É comum que as pessoas espumem pela boca e tenham tremores musculares.
Outros sintomas do sarin é que ele deixa a visão da pessoa atingida turva e causa ânsia de vômito e convulsões. As crianças tendem a ser mais afetadas.

Como identificar um ataque químico?
A maioria desses agentes são quase impossíveis de identificar quando dispersados na atmosfera. "Eles são como inimigos invisíveis", define Colasso. A exceção fica por conta do cloro que faz o nariz, olho e a garganta arderem.
"Na Síria, as pessoas vivem um cenário de guerra, onde toda hora tem bomba caindo, toda hora explosão. A pessoa não consegue imaginar que em uma dessas explosões vai ter um gás", explica a especialista. "É perverso o uso da arma química porque você não tem como fugir, não tem como se esconder", lamenta.
O problema é que quando uma população identifica que está sendo vítima de um ataque químico, o primeiro ímpeto é o de correr.
Como esses gases se dispersam com facilidade, quanto mais a pessoa corre mais inala o gás e mais envenenada fica. 

As vítimas podem ser tratadas?
Em um contexto controlado e de normalidade, com uma infraestrutura adequada é possível salvar uma vítima de um ataque químico, como acontece com Sergei e Yulia Skripal. Yulia, inclusive já apresentou melhoras no tratamento que recebe no Reino Unido.
Tendo em vista, no entanto, o cenário da guerra da Síria, essas pessoas tendem a sofrer mais porque, muitas vezes, não há sequer médicos e enfermeiras suficientes para prestar a ajuda necessária, muito menos hospitais adequados.
Fonte: https://noticias.r7.com/internacional/o-que-sao-armas-quimicas-sete-pontos-para-entender-esta-ameaca-19042018


5  ataques com armas químicas que entraram para a história


Em 2013, um atentado que matou quase 1500 pessoas na Síria despertou o século 20 para um horror antigo: a utilização de armas químicas para aniquilar rapidamente um grande número de pessoas. Agora, em 2017, mais um ataque com gases tóxicos na Síria ganhou o noticiário internacional.
O potencial de destruição das armas químicas preocupa tanto civis quanto líderes militares, que tentaram a todo custo banir o seu uso em situações de conflito. Veja como esses agentes químicos letais foram utilizados com o passar dos anos e as consequências desastrosas desses atos.
1. Primeira Guerra Mundial (1914-1919)
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A Primeira Guerra Mundial também ficou conhecida como a “guerra dos químicos”, pois foi a primeira a introduzir gases venenosos e mortais no combate. Com uma forte indústria química que vinha do século XIX, a Guerra que durou de 1914 a 1918 teve várias experiências com esse novo instrumento letal. Em 1915, em Ypres, na Bélgica, a Alemanha abriu várias caixas de gás clorídrico na direção das tropas aliadas, condenando muitos a uma morte agonizante. Ao fim da guerra, o uso de armas químicas havia proliferado em ambos os lados – incluindo agentes como fosgênio, cianeto e gás mostarda, um agente químico que causa queimadura severa na pele, olhos e sistema respiratório e que é absorvido por inalação, ingestão ou contato com a pele e os olhos. Horrorizados com os efeitos e com o pavor gerado por esses ataques, em 1925 quinze países assinaram o Protocolo de Genebra, tratado que proibia o uso de armas químicas e bacteriológicas. O número de mortos nesses ataques ultrapassou os noventa mil e mais de um milhão ficaram feridos.
2. Alemanha Nazista (1933-1945)
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A Alemanha liderada por Adolf Hitler enfrentou várias batalhas durante a Segunda Guerra Mundial, mas não era durante os conflitos armados em que o ditador fazia uso de armas químicas para fins de extermínio de população. Durante a guerra, milhões de judeus foram transportados para campos de extermínio, mais notadamente Auschwitz, na Polônia ocupada pelos nazistas. Os judeus eram sufocados em câmaras de gás usando Zyklon B, um pesticida a base de ácido cianídrico, cloro e nitrogênio criado pelos próprios alemães e utilizado por proporcionar eficientemente uma morte rápida. Aproximadamente seis milhões de judeus morreram no Holocausto, além de ciganos, homossexuais, deficientes e prisioneiros soviéticos.
3. Massacre de Halabja (1988)
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O ataque químico em Halabja, no Curdistão Iraquiano,   que ficou conhecido também como Massacre de Halabja, ou Sexta-feira Sangrenta, ocorreu no dia 16 de maio de 1988. Durante o encerramento da Guerra Irã-Iraque, o regime de Saddam Hussein utilizou armas químicas para remover curdos de cerca de 40 vilas no norte do Iraque. No ataque foi utilizado gás mostarda e sarin, um líquido sem cor nem cheiro que causa extrema devastação no sistema nervoso, levando as pessoas expostas a perderem as funções corpóreas e, se não tratadas imediatamente, a entrarem em coma ou sofrer falência respiratória. No ataque indiscriminado, homens, mulheres e crianças sufocaram até a morte. A atrocidade impulsionou a criação da Convenção das Armas Químicas das Nações Unidas em 1997, um pacto internacional banindo a produção, estoque ou uso de armas químicas. Apenas sete nações – incluindo a Síria – não assinaram a lista. O massacre de Halabja deixou cerca de cinco mil mortos. O conflito militar entre Irã e Iraque teve várias vítimas de armas químicas a mais do que o ataque aos curdos. Hussein também utilizou gás mostarda e sarin contra o Irã para mudar a guerra a favor do Iraque e obrigar Teerã, capital da República Islâmica do Irã, a negociar. A treta continua: documentos recentes da CIA revelaram que os Estados Unidos sabiam do uso das armas químicas, mas decidiram não agir por medo de uma vitória iraniana. O total de mortos ultrapassou vinte mil pessoas.
4. Crise dos reféns em Dubrovka (2002)
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Na noite do dia 23 de outubro, cerca de 800 pessoas estavam num teatro em Dubrovka, em Moscou, conferindo a apresentação de um musical. De repente, 42 militantes chechenos liderados por Movsar Barayev (foto) entraram armados no teatro e fizeram todos os presentes de refém. Eles seram membros de um grupo separatista da Chechênia, que, na época, estava em guerra com a Rússia. A reivindicação era pelo fim do conflito e pela retirada dos militares russos na região. O sequestro e a negociação dos chechenos com o governo russo durou mais de 48 horas e só acabou quando os russos soltaram um gás tóxico desconhecido no sistema de ventilação do teatro. Quase todos os militantes morreram. Como se não fosse o suficiente, mais de 100 reféns também foram vítimas do gás. O governo russo nunca revelou qual era o gás usado no ataque e a ação extrema foi bastante criticada na época. Há estimativas de que mais de 200 pessoas tenham morrido. Mas os detalhes sórdidos do caso foram guardados a sete chaves, como segredo de estado. Por isso, não dá para ter certeza. Desde 2002, muitas teorias surgiram sobre a substância. Uma das mais aceitas é que se tratava de um derivado do fentanil, um anestésico poderosíssimo, 100 vezes mais potente que a morfina, que pode fazer com que as pessoas simplesmente deixem de respirar.
5. Ataque Químico de Ghouta (2013)
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No dia 21 de agosto de 2013, um ataque do governo sírio durante a Guerra Civil da Síria resultou em mais de 1500 mortes, sendo 426 delas crianças. Áreas controladas ou disputadas pela oposição nos arredores de Ghouta, próximo a Damasco, capital síria, foram atingidas por foguetes contendo sarin. As milhares de vítimas mortas no atentado não apresentavam feridas físicas. Em janeiro de 2015, foi confirmado pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, que armas químicas foram usadas em grandes escala, o que resultou na morte de inúmeros civis. A ONU considerou o ataque um crime de guerra e uma violação grave – o pior uso de armas químicas em civis no século XXI, e o mais significativo desde Halabja.
Guerra do Vietnã (1955-1975)
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“Eu adoro o cheiro de napalm pela manhã. Tem cheiro de vitória”. A frase imortalizada pelo personagem Coronel Bill Kilgore no filme Apocalypse Nowcaptura a brutalidade banal do massacre que os Estados Unidos promoveram em sua guerra contra o Vietnã do Norte entre 1965 e 1975. Milhões de litros de napalm incendiário foram utilizados para desfolhar as densas florestas nos quais os inimigos vietnamitas se escondiam. A substância gelatinosa pega fogo e se gruda ao corpo, queimando músculos e ossos, gerando feridas terríveis e morte. Os Estados Unidos também despejaram cinquenta milhões de litros de Agente Laranja, um herbicida químico extremamente forte, para destruir todas as plantas. Esses desfolhantes devastaram o habitat natural, e seus agentes infiltraram no solo e nas reservas de águas, levando a população a sofrer com vários problemas de saúde como câncer e síndromes neurológicas por gerações. Mais de um milhão de vidas foram tiradas nesse ataque, e mais de quatrocentos mil crianças vietnamitas nasceram vítimas de malformações congênitas. Mas, apesar do potencial destruidor, napalm não é exatamente uma arma química, pois precisa ser adicionado à gasolina para funcionar direitinho.
Fonte: https://super.abril.com.br/blog/superlistas/5-episodios-com-armas-quimicas-que-entraram-para-a-historia/


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